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Ansiedade Funcional: Por Que Eu "Dou Conta de Tudo" e Vivo à Beira do Esgotamento?

  • Foto do escritor: João Paulo Soares Fernandes
    João Paulo Soares Fernandes
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

Sua agenda está lotada. O e-mail está em dia, o projeto foi entregue, as metas foram batidas. Para quem vê de fora, sua vida "funciona" perfeitamente. Você é a pessoa que "resolve", que "dá conta de tudo", que parece ter uma energia inesgotável.

Mas então, o dia de trabalho acaba. O celular para de tocar. E no silêncio, em vez de alívio, o que surge é uma inquietação profunda.


O coração acelera. A mente começa a repassar obsessivamente o que precisa ser feito no dia seguinte. A sensação não é de descanso, mas de estar correndo uma maratona que nunca tem linha de chegada. Se isso soa familiar, você pode estar vivendo o que chamamos de ansiedade funcional.


Essa não é a ansiedade que paralisa. Pelo contrário, é uma ansiedade que produz. Ela é, muitas vezes, a armadura que você veste para enfrentar a batalha da "correria" do dia a dia. É a voz interna que sussurra que "parar é fracassar", que você "não pode decepcionar ninguém" e que é preciso estar sempre um passo à frente.

Por fora, essa armadura parece competência e dedicação. E ela é. Mas, por dentro, ela tem um custo altíssimo.


O custo é viver com uma tensão muscular que parece crônica. É a dificuldade de "desligar" o cérebro para dormir, mesmo com o corpo exausto. Muitas vezes, toda essa performance funciona como uma tentativa exaustiva de não sentir a ansiedade ou a culpa – uma luta interna que, ironicamente, só alimenta mais a tensão. É o "pavio curto" que estoura em casa, justamente com as pessoas que você mais ama, depois de um dia inteiro segurando o controle. É a incapacidade de relaxar de verdade – o descanso vem sempre acompanhado de culpa, e o lazer parece só mais uma tarefa na sua lista de "otimização pessoal".


Talvez a parte mais dolorosa da ansiedade funcional seja a Síndrome do Impostor que quase sempre anda de mãos dadas com ela. Você se sente como uma fraude, apenas esperando o momento em que alguém vai descobrir que você não é tão competente assim, que tudo não passa de sorte ou de um esforço sobre-humano que você não sabe por quanto tempo mais vai conseguir manter.


O grande paradoxo é que o mundo, muitas vezes, aplaude essa exaustão. A performance é recompensada. E isso gera uma confusão interna imensa, que se traduz em culpa: "Eu tenho um bom trabalho", "Tenho uma família", "Não tenho do que reclamar".


Mas a sua exaustão é válida, mesmo que seus resultados sejam positivos.


É fundamental entender que essa ansiedade, muitas vezes, não nasce de uma fraqueza, mas de uma crença profunda – e muitas vezes inconsciente – de que o seu valor está diretamente atrelado ao seu desempenho. A crença de que, se você parar de produzir, você deixa de ser suficiente, de ser amado(a), de ser respeitado(a). Assim, "dar conta de tudo" deixa de ser uma escolha e passa a ser uma questão de sobrevivência emocional.


Se você se reconheceu nessas palavras, a primeira coisa que eu gostaria que você soubesse é: você não está imaginando coisas. O seu cansaço é real e legítimo.


Este texto, obviamente, não tem a intenção de ser um diagnóstico. Ele é um convite para você olhar para essa armadura com mais curiosidade e menos julgamento. O processo terapêutico é o espaço seguro para investigar por que essa armadura foi necessária e como, talvez, seja possível encontrar formas mais leves e sustentáveis de viver. É um caminho para aprender a descansar sem culpa, notar os pensamentos sobre produtividade sem precisar obedecê-los automaticamente, e reconectar-se com o que "sucesso" realmente significa para você, para além das planilhas, das metas e das expectativas alheias.

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